Conjuntivite por neisseria gonorrhoea em menina prepubere um dilema

violência sexual ou transmissão não sexual?

Autores

  • Maria Ivete Castro Boulos Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo
  • Isabelle Vera Vichr Nisida Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo
  • Luma Paiva Frizzera Faculdade de Medicina, Universidade de São Paulo
  • Aluisio Cotrim Segurado Faculdade de Medicina, Universidade de São Paulo

Palavras-chave:

Neisseria gonorrhoeae, conjuntivite, transmissão de doença infecciosa, delitos sexuais, estupro, criança

Resumo

As infecções sexualmente transmissíveis (ISTs) são um problema de saúde pública global e com frequência deixam sequelas se não diagnosticadas e tratadas adequadamente. A infecção por Neisseria gonorrhoeae (NG) é uma das ISTs mais prevalentes em todo o mundo e, recentemente, tem apresentado crescentes taxas de incidência, além de resistência a antimicrobianos. Após o período neonatal, a infecção por NG na infância pode ser uma evidência de violência sexual (VS), no entanto a comprovação da violência é um desafio na prática clínica. Objetivo: Apresentar um caso de conjuntivite por NG em uma menina pré-púbere e discutir as possíveis vias de contaminação e implicações médicas forenses. Relato de caso: Trata-se de uma criança caucasiana de 7 anos de idade do sexo feminino, estudante, procedente de São Paulo, que, após uma internação, foi encaminhada ao Núcleo de Atendimento a Vítimas de Violência Sexual (NAVIS) para investigação de violência sexual, em setembro de 2013. Na admissão intra-hospitalar, houve relato de hiperemia ocular direita, iniciada havia 10 dias, sem resposta ao tratamento com colírio de tobramicina. Antecedentes pessoais: nada digno de nota. Ela morava com a mãe e a avó e visitava o pai a cada duas semanas. Os exames físico e ginecológico foram normais. Exame oftalmológico: olho esquerdo — nada digno de nota. Olho direito — edema palpebral, hiperemia conjuntival com exsudato purulento e perfuração da córnea superior. A bacterioscopia de secreção conjuntival foi positiva para diplococos gram-negativos e a NG foi isolada em cultura. A paciente foi submetida a sutura cirúrgica de perfuração do olho direito e, enquanto internada, recebeu 1 g de ceftriaxona endovenoso por dia, por um período de 10 dias. Durante a investigação no ambulatório de NAVIS, a mãe negou qualquer episódio de VS ou mudança de comportamento escolar. Foi oferecida assistência psicológica e social à criança e à mãe por mais de seis meses, mas a VS não pôde ser caracterizada. A investigação de IST para o HIV, infecções por hepatite B e C e sífilis resultou negativa. Com base na literatura, a hipótese de transmissão não sexual acidental de NG intrafamiliar foi então considerada. As secreções genitais da mãe (endocervical, vaginal e uretral) foram coletadas e o isolamento endocervical da NG produtora por betalactamase foi positivo. Medidas de higiene e isolamento de contato foram recomendados, além ser prescrito o tratamento com ceftriaxona em dose única de 1g para a mãe. Durante o acompanhamento, a criança desenvolveu opacidade corneana em seu olho direito. Conclusão: Em crianças pré-púberes que apresentam manifestações clínicas incomuns, as ISTs devem sempre ser consideradas e investigadas para permitir o tratamento imediato e assim evitar sequelas. Se uma infecção gonocócica for diagnosticada, a possibilidade de (VS) deve ser minuciosamente investigada, de preferência com uma abordagem multidisciplinar abrangente para descartar a contaminação não sexual e evitar danos emocionais à criança e à sua família. Definir com precisão se houve VS e propor intervenções adequadas nessas circunstâncias mostra-se um desafio para os profissionais de saúde.

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Biografia do Autor

Maria Ivete Castro Boulos, Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo

Rape Care Center of Infectious Diseases, Hospital das Clínicas, Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo – São Paulo (SP), Brazil.

Isabelle Vera Vichr Nisida, Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo

Rape Care Center of Infectious Diseases, Hospital das Clínicas, Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo – São Paulo (SP), Brazil.

Luma Paiva Frizzera, Faculdade de Medicina, Universidade de São Paulo

Division of Ophthalmology, Hospital das Clínicas, Faculdade de Medicina, Universidade de São Paulo – São Paulo (SP), Brazil.

Aluisio Cotrim Segurado, Faculdade de Medicina, Universidade de São Paulo

Department of Infectious Diseases, Faculdade de Medicina, Universidade de São Paulo – São Paulo (SP), Brazil.

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Publicado

2018-03-10

Como Citar

1.
Boulos MIC, Nisida IVV, Frizzera LP, Segurado AC. Conjuntivite por neisseria gonorrhoea em menina prepubere um dilema: violência sexual ou transmissão não sexual?. DST [Internet]. 10º de março de 2018 [citado 3º de julho de 2024];30(1):30-2. Disponível em: https://bjstd.org/revista/article/view/821

Edição

Seção

Relato de caso